A Lagoa de Óbidos
A Lagoa de Óbidos localiza-se nos concelhos de Caldas da Rainha e Óbidos. Situa-se numa depressão pouco profunda, de contornos irregulares e muito instáveis junto ao mar, cuja barreira natural de separação do ambiente marinho é formada por um cordão de dunas litorais (Martins, 1992). A sua ligação ao mar é feita através de um canal de largura e posicionamento variável, localmente designado por "aberta". Por vezes, este locai de transição fecha, sendo necessário recorrer a intervenções com o objetivo de manter a barra aberta.
A Lagoa de Óbidos estende-se para montante por dois canais, para Este pelo Braço da Barrosa e para Sudoeste pelo Braço do Bom Sucesso. Do lado Sul encontram-se as Poças do Vau e do lado Oeste à Poça das Ferrarias.
Com pelo menos 2000 anos, a Lagoa de Óbidos, tal como qualquer outra lagoa costeira, constitui um sistema ambiental em permanente evolução. A sua fisiografia, também, sofreu drásticas modificações. O estado atual da Lagoa de Óbidos é o que resta de um grande braço de mar que percorria vários quilómetros até alcançar as terras baixas que circundam a colina onde se encontra a Vila de Óbidos.
No lado poente da encosta do castelo foram encontrados depósitos de conchas de ostreídeos e outros despojos marinhos, e há inclusive autores que defendem terem existido pedras furadas e algumas argolas de bronze para segurar as barcas à muralha do castelo. Registos históricos, referem que, em 1790, a lagoa chegava ao Outeiro da Assenta e os campos entre os dois montes do Arelho e Sobral não eram cultivados por estarem sempre debaixo de água, mesmo no Verão. Também o juncai entre a embocadura dos rios e Santa Rufina estava sempre coberto de água e era aí que, em 1826, a corte embarcava na ocasião das caçadas. A Poça do Vau, por exemplo, foi coutada real até 1833 (Santos et ai., 1998).
Desde muito cedo que a Lagoa povoou o imaginário dos habitantes de Vau. Não só pela sua formosura, que a todos encantou, mas pelas potencialidades económicas que ela tinha para lhes oferecer. Aos estranhos coloridos e cambiantes, capazes de fascinar e embriagar os sentidos, juntava-se uma grande riqueza de variadas espécies de peixes, mariscos e o limo com que fertilizavam as suas leiras. Por isso, durante muito tempo se disse que a Lagoa dava carne, pão e vinho. Esta vasta toalha de água foi em tempos remotos muito mais extensa, lendo chegado a banhar o sopé da colina onde assenta Óbidos. Para além de uma área central, a lagoa estende-se por braços, o da Barrosa e o do Bom Sucesso, Aproveitando os vates de alguns ribeiros que nela desaguam. Passando pela extremidade do braço do Bom Sucesso, chega-se ao sítio da Cabana, onde se banquetearam muitos reis de Portugal. Aí, no desaparecimento do Casal das Cabanas, uma série de padrões comemorava o facto de tão ilustres personagens terem-se deslocado a estas paragens. Num deles lia-se: "O Sereníssimo e Feliz Restaurador deste Reino, El Rei D. João IV jantou nesta Cabana em quatorze de Setembro de 1645". Também ali estiveram D, João V em 1714, D. José em 1761, D. Maria em 1782 e D, Pedro V em 1860. Ramalho Ortigão disse um dia que "à Lagoa de Óbidos não falta senão uma cintura de jardins e de habitações de luxo para ser tão bela como alguns lagos célebres do norte de Itália".