Lendas e Tradições

Contam que...

Lenda do Primeiro Morador

Diz uma lenda que o primeiro morador do Vau terá sido um irmão de Frei António de Barros, monge do convento do Vale Benfeito.

Lenda da morte dos opositores do Vau

Quando o Infante D. Pedro submeteu ao cardeal-patriarca D. Tomás de Almeida a pretensão de que fosse constituída a paróquia do Vau, foi grande a oposição pelos que de alguma forma estavam interessados em que o Vau mantivesse a ligação à Amoreira. Dos opositores destacou-se o cura da Amoreira, padre João Teixeira Monteiro, que ao receber do patriarcado a nota de que, as contrariedades interpostas nada proferindo, estava a paróquia definitivamente ereta, adoeceu de pesar, e de tal modo que faleceu dentro de dias.

Os outros dois principais opositores, o padre Arsénio Caetano e o canteiro Manuel Pereira (de Sobral da Lagoa), morreram também pouco depois.

O padre Arsénio Caetano ao deslocar-se de barco a Vau, para efetuar, por desgosto, a venda de tudo o que aqui possuía, terá morrido afogado quando a embarcação se virou.

E o canteiro Manuel Pereira terá morrido por ao ridicularizar a nova paróquia e os paroquianos, numa romaria, terá sido ferido tendo morrido a fim de três dias, tendo sido ele a estrear o cemitério da nova freguesia e o primeiro indivíduo que o pároco do Vau aí sacramentou.

O povo viu nestas três mortes o castigo das chicanas e tricas urdidas por eles contra a ereção do Vau em paróquia.

Lenda do Bicho do Vau

Quem não se lembra na década de sessenta o terror que assolava o litoral do concelho de Óbidos, e a lenda (O Bicho do Vau)? O medo espalhava-se no Béltico e Bom Sucesso. Esse maldito animal que espalhava o terror e o medo, a confusão nas populações daquela zona… “Olha fugiu de um circo”, dizia um. “Não, foi um barco que o largou na costa”, dizia outro. Será um leão uma leoa será um tigre? Talvez uma loba.
Tocou-se o sino a rebate dias a fio, meteram-se em alerta todas as povoações daquela zona, muniram-se de varapaus os caçadores, organizaram-se caçadas, buscas, enfim uma pafernália de iniciativas a fim de encontrar ou matar o diabo do bicho.
Até nos concelhos vizinhos o acontecimento era noticia.
Às segundas-feiras, numa rua movimentada das Caldas, um invisual tocava um instrumento desafinado com um cartaz ao peito anunciando a tragédia (“olha o bicho do Vau que este fim de semana comeu uma orelha a uma criancinha”). Era difícil encontrar o bicho dado que este se escondia às mil maravilhas. Havia florestas, pinhais a perder de vista, matagais enormes… Quem é que conseguia dar com o leão, o lobo, fosse lá o que fosse? E não o apanharam.
As mentes mais abertas dessa época narravam esta lenda como sendo uma artimanha para se poder fazer contrabando.
Mas a lenda regressou.
Pasme-se. Ele que passado tantos anos o bicho pensa em regressar à zona que o viu nascer para passar o resto dos seus dias, pregando um sustozito aqui, outro ali, só para matar o tempo e descansar o esqueleto que a vida foi dura.
No trajecto passa por um velho Musaranho que o interpela e lhe pergunta: “para onde vais? Houve amigo, vais enganado, se fosse a ti voltava para trás pois vais ter uma desagradável surpresa. Aquilo já não é o que era. Já nem poderás banquetear-te à sombra de um pinheiro. E esconder-te nem pensar. Grande parte das matas foram-se. Vais encontrar, isso sim, betão, alcatrão e extensões enormes de relva, fora o resto que está esventrado. E sabes? Disseram-me que tudo isto era a bem do progresso acreditas”.
O bicho coçou a cabeça, disse uma blasfémia e lastimou-se. “Ora bolas, onde é que eu me vou meter? Se calhar nem sobrevivo e como é que prego uns sustos à malta sem ser visto?
Diz o velho Musaranho: “Não te preocupes amigo. Pelo que o feiticeiro do meu clã me disse, dentro em breve ou daqui a alguns anitos talvez, estas estradas de alcatrão estarão cobertas de silvas, abundarão carrascos, aroeiras e outra vegetação, as árvores voltarão a crescer, e então os teus filhotes e netos brincarão à vontade e livremente”.
E voltando para trás, o Bicho do Vau despede-se do velho Musaranho. “Obrigado amigo agradeço-te o consolo”.
(Para o despertar de consciências, mentes desta época e amigos da natureza.)
Rogério A. Santos

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